Em tempos de web 2.0 - que não passa de uma nomenclatura em cima do conceito inicial quando da criação da web - fala-se já em sua ‘versão’ 3.0, o momento em que todo provimento de conteúdo e serviços será contextual, além de bi-direcional.
Mas o que seria, na prática, servir conteúdos e serviços contextuais?
O “contexto” trata de relacionar uma ação ao momento, local ou fato presente no momento de tal ação. Trazida para a comunicação digital, podemos dizer que o dispositivo que provê conteúdos e serviços “entenderia” o que está acontecendo e customizaria seus serviços em função destas variáveis. Para, didaticamente, traduzir a capacidade de personalização variável, poderíamos classificar esta contextualização em:
Geográfica
Relacionada ao local onde o consumidor se encontra. Os serviços de LBS - Location Based Services - já usam este critério para, no mínimo, identificar rotas e serviços próximos de um local específico. Usando esta variável isoladamente, uma empresa já pode, por exemplo, apresentar serviços próximos à localização do usuário. Isto não é nenhuma novidade hoje em dia e poderia ser considerada web 3.0. Sim, um (hoje) simples GPS já está nesta nova era (que, particularmente, é mais uma face da mesma moeda).
Temporal
Ligada ao momento em que o usuário se encontra, não apenas a questão horária (manhã, tarde, noite), mas também à atividade que ele está realizando conscientemente: trabalhando, passeando, jantando etc. Ao saber que o consumidor terminou seu jantar, o menu touch-screen da mesa do restaurante altera para seu menu de sobremesas, ordenadas pelos hábitos de consumo das últimas visitas do usuário. Toque (ou, se preferir, fale) e confirme sua seleção.
Situacional
A situação, inicialmente, poderia ser vista como uma extensão da contextualização temporal. Uma diferença que creio ser importante é a consciência ou não de determinadas necessidades. Privacidade à parte (não é o foco da discussão), de uma forma ou de outra seria possível identificar o que alguém viria a desejar em função do que está ocorrendo; e oferecer este conteúdo.
A “brincadeira” começa quando começamos a juntar estes elementos: “Está calor hoje”, identificado automaticamente por seu chip corpóreo, que transmite a informação a seu dispositivo móvel, levando ao recebimento de uma mensagem autorizada - “Apresente este código de barras na sorveteria Cuca Fresca, localizada 20m à sua esquerda e tenha 10% de desconto no sorvete de menta (seu sabor preferido)”.
Exagerando para tornar caricato, futuramente podemos ter como opção de opt-in: “Identifique e supra qualquer necessidade que eu tenha”. Sim, tecnicamente isto é possível, chips corpóreos que monitoram o comportamento e transmitem informações remotamente já existem há um bom tempo (há muito tempo atrás, em 2006, já se falava neles). Bases de dados modeladas para acomodar informações dos usuários visando customização de conteúdos e serviços idem. Logo, qual seria o empecilho técnico? É claro que há uma discussão fundamental relacionado à privacidade e o acesso a estas informações.
Não indo tão longe, vamos tomar como exemplo a ação de RFID usada pela Mini em algumas cidades dos EUA.
Os novos proprietários de um automóvel Cooper poderiam, se quisessem, obter um chaveiro com uma mensagem customizada emitida via RFID. Ao passar embaixo de alguns enormes painéis luminosos em viadutos nas cidades de Chicago, Nova Iorque, Miami e São Francisco eram exibidas estas mensagens particulares, transmitindo a mensagem para, no mínimo, todos os motoristas próximos. (Claro que as mensagens eram moderadas para que alguma revolta pessoal não fosse transmitida, by Mini, para os transeuntes da ponte Golden Gate).
Ok, mas vamos agora tirar o componente corporativo desta comunicação personalizada e pensar, por exemplo, em redes-socias-mobile-colaborativas-contextuais.
Por partes:
- Redes sociais: vamos lá, consideremos o Orkut, quem não tem no Brasil, um dia já teve;
- Mobile: acessíveis (”acessáveis”) de qualquer lugar, a qualquer momento com múltiplos dispositivos;
- Colaborativas: com tanto sendo falado sobre web 2.0, é redundante abordar este tópico;
- Contextuais: permitiriam o consumo ou publicação de informações relacionadas ao contexto (geográfico, temporal ou mesmo situacional) de quem o está acessando ou publicando.
O próprio fato de ser “móvel”, traz consigo, intrinsecamente, parte da questão da contextualização.
Ilustrando esta forma de comunicação, todo profissional que trabalha no meio online certamente já viu o vídeo Epic2015, uma visão de futuro sobre como a informação será tratada nos anos vindouros. Seu fechamento, quando a “sobrevivente” Pink utiliza o celular para contatar-se com pessoas próximas e informar como está o trânsito ou seu colega convida pessoas que estejam próximas a determinada praça para um lanchinho num parque das redondezas são exemplos de uma rede-social-móvel-colaborativa.
Claro que, patrocinado por uma empresa, caímos numa discussão do quanto a publicidade pode ser útil ou extremamente irritante.
Um exemplo que gosto de utilizar em palestras: meu celular sabe que estou entrando no Shopping Ibirapuera (Piso Moema) e detecta que aquela garota, presente em minha lista de paqueras no Orkut, está, coincidentemente, no mesmo shopping. É hora do almoço e você também está na lista de paqueras dela? Ambos recebem um SMS: “Fulano, Fulana está te paquerando e a 100m de você. Não é uma ótima oportunidade para conhecer o novo Big Whooper do Burguer King? Venham juntos e ganhem um ringtone exclusivo”. Isto sem que nenhum dos dois tenha, ao chegar no shopping, pensado em iniciar um relacionamento em uma rede de fast-foods.