ALAN SOKAL
Desse modo, a relatividade geral nos obriga a adotar noções radicalmente novas e contra-intuitivas a respeito do espaço, do tempo e da causalidade; por isso, não surpreende que tenha provocado profundo impacto não apenas nas ciências naturais como também na filosofia, na crítica literária e nas ciências humanas.
Por exemplo, num célebre simpósio realizado há três décadas sobre "Les Langages Critiques et les Sciences de l'Homme", Jean Hyppolite levantou uma questão incisiva sobre a teoria da estrutura e dos signos no discurso científico, de Jacques Derrida.
A perspicaz resposta de Derrida foi ao âmago da relatividade geral clássica: "A constante einsteiniana não é uma constante, não é um centro. É o próprio conceito de variabilidade _é, finalmente, o conceito do jogo. Em outras palavras, não é o conceito de alguma coisa _de um centro a partir do qual um observador pode dominar o campo_, mas o próprio conceito do jogo".
Em termos matemáticos, a observação de Derrida liga-se à invariância da equação de campo de Einstein sob difeomorfismos (auto-aplicações da variedade espaço-temporal infinitamente diferenciáveis mas não necessariamente analíticas) não-lineares do espaço-tempo. O ponto-chave é que esse grupo de invariância "age transitivamente": isso significa que qualquer ponto do espaço-tempo, caso exista, pode ser transformado em qualquer outro. Dessa forma, o grupo de invariância de dimensão infinita dissolve a distinção entre observador e observado; o
de Euclides e o G de Newton, antes imaginados constantes e universais, são agora percebidos em sua inelutável historicidade; e o observador putativo se torna fatalmente de-centrado, desconectado de qualquer ligação epistêmica com um ponto do espaço-tempo que não pode mais ser definido apenas pela geometria.
Alan Sokal é professor de física na Universidade de Nova York. Tem colaborações científicas na Itália e no Brasil (Universidade Federal de Minas Gerais). Durante o governo sandinista, ensinou matemática na Universidade Nacional da Nicarágua. Junto com o belga Jean Bricmont escreve "Les Impostures Scientifiques des Philosophes (Post-)Modernes" _em que se examinam as bobagens matemáticas de Lyotard, Baudrillard, Deleuze, Guattari e Virilio.
Além das referências do texto, o "caso Sokal" apareceu nas primeiras páginas do "New York Times", do "International Herald Tribune" e do "Observer". Naturalmente, está dando origem a considerável trânsito de e-mails na Internet. Home pages que vale a pena visitar:
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