Morte

arquivo morto

A gente não deseja o mal a ninguém, mas você já parou pra pensar no que vai acontecer com seu MSN quando você morrer? O que vão fazer com seu perfil no Orkut ou no Facebook? E seus e-mails importantes, o que será deles? Dá pra recuperar suas fotos no Flickr e deixá-las para alguém?

Bom, temos uma notícia boa e outra ruim. A boa é que a maioria dos seus pertences cibernéticos podem ser recuperados e, se você não quer receber homenagens digitais depois que partir dessa pra melhor, é possível deletar seus perfis no Orkut ou no Facebook. Mas aí é que entra a má notícia: eliminar rastros na internet dá um trabalho gigante.

O Superblog oferece duas opções. Na primeira, mostramos os caminhos que seus amigos e parentes devem seguir para apagar o que sobrou de você na internet. Já a segunda tem uma função mais preventiva: apresentamos serviços de "testamento virtual", que distribuem seu legado cibernético entre os mais chegados. O que você prefere? Prevenir ou remediar? Dê uma olhada no post e decida.

O QUE SEUS AMIGOS PODEM RESOLVER POR VOCÊ

Hotmail

Não adianta insistir: a política de privacidade do Windows é muito restrita e não manda senhas para ninguém. Contudo, a empresa pode enviar os contatos e e-mails arquivados em um CD para um parente ou amigo. É preciso redigir uma solicitação contendo seu e-mail pessoal, endereço, um comprovante de que você é o responsável legal pelos pertences do falecido, uma cópia da sua carteira de motorista (!), cópia de certidão de óbito e as seguintes informações sobre a conta de e-mail:

- Endereço da conta

- Primeiro e ultimo nome do dono do e-mail

- Data de nascimento

- Cidade, estado e código postal

- Data aproximada de criação da conta

- Data aproximada do último login

Depois disso, é preciso juntar todos esses documentos e enviá-los por fax para o Custodian of Records, no número 00(XX)1 (425) 708-0096, ou por correio, aos cuidados do Windows Live/MSN Compliance, no endereço: 1065 La Avenida, Building 4, Mountain View, CA 94043, USA. Você deve escrever por fora do envelope que o conteúdo é destinado à seção Custodian of Records. Cinco dias úteis depois, o Windows Live vai procurar o encarregado pelo requerimento e conferir os dados. Tudo certo? Você irá receber todas as informações do seu chegado em casa, pelo correio.

Facebook

É preciso enviar um e-mail para a divisão de privacidade do Facebook, em inglês, com uma cópia do atestado de óbito do morto. Também é necessário comprovar parentesco com o falecido, ou a equipe do Facebook pode se negar a deletar o perfil. Se você desejar retirar apenas algumas informações mais importantes, mas manter o perfil, é possível "memorizá-lo", ou seja, mantê-lo visível apenas para amigos adicionados. Neste caso, basta preencher este formulário, comprovando seu relacionamento com o morto, onde o conheceu, entre outros. O Facebook não fornece nenhuma senha.

Gmail/Google Account

O jeito mais fácil de cancelar uma conta de e-mail no Google é esquecer dela. Ao completar seis meses de inatividade, a conta fica "dormente" e é necessário reativá-la para recuperar seus e-mails e arquivos. Se ela permanecer inalterada por mais três meses - ou seja, nove meses consecutivos -, ela é totalmente cancelada.

Há outro jeito de obter as informações da conta, mas para isso é preciso preparar a papelada, o inglês e a boa vontade. Para ter acesso total ao e-mail de um ente querido no Gmail, é preciso mandar um fax ou e-mail diretamente para o Google com as seguintes informações:

- Seu nome completo e informações de contato, inclusive seu e-mail;

- O endereço de e-mail do falecido;

- Um cabeçalho completo de uma mensagem de e-mail que você tenha recebido do falecido e todo o conteúdo da mensagem enviada. (Para obter o cabeçalho completo no Gmail: abra a mensagem, clique em "More Options" > "Show Original". Copie tudo que aparecer depois de "Delivered-To", na linha de "References". Se você não tem e-mail no Gmail, pode conferir as exigências do cabeçalho completo neste link )

- Comprovante de óbito

- Se o conhecido tinha 18 anos ou mais, providencie um atestado que você é o representante legal dessa pessoa ou de suas posses. Se era um menor de idade e você for pai dessa pessoa, faça uma cópia da certidão de nascimento dela.

Você deve enviar todo esse material para o Google e escrever no envelope "Attention: Gmail User Support". O endereço é 1600 Amphitheatre Parkway, Mountain View, CA 94043. Também pode enviar por fax, pelo número 00(XX)1-650-644-0358.

Depois de receber as informações, o Gmail vai precisar de 30 dias para processar e validar os documentos enviados. Se você achar que vale a pena, pode recorrer ao tribunal para tentar diminuir esse prazo. No fim das contas, até ajustar os trâmites legais brasileiros com os americanos, o processo de validação do material é bem mais rápido.

Orkut

Se você seguir os procedimentos do Gmail, pode acessar o Orkut e cancelar a conta facilmente, basta ter o acesso à conta. Outra maneira de eliminar o perfil do conhecido é clicar em "Denunciar Abuso", selecionar a opção "Atividade Ilegal" e fornecer o maior número possível de informações, como data e causa da morte, nome completo, a relação que vocês tinham... quanto mais pessoas denunciarem o perfil da mesma maneira, maior é a chance do Orkut retirar o perfil do ar mais rapidamente.

Twitter

Uma conta inativa no Twitter é desativada seis meses depois do último login. Então, se ninguém souber sua senha, seu perfil vai desaparecer em questão de tempo. Entramos em contato com a equipe de privacidade do Twitter para descobrir se há uma medida mais específica nesse caso, mas não houve retorno.

O QUE VOCÊ PODE FAZER PARA FACILITAR

Se você acha que prevenir é melhor do que remediar, prepare-se para mexer no bolso e desenferrujar o inglês. A maioria dos sites que oferecem testamentos virtuais são gringos, pagos e cobram pagamento anual, em dólares, naturalmente. Acha que compensa? Você sempre pode compartilhar suas senhas com um amigo confiável e vice-versa. Mas se mesmo assim você deseja passar seu legado virtual para a frente, confira as opções:

YouDeparted

O YouDeparted oferece o serviço completo. Além de armazenar suas senhas, logins e informações confidenciais, você pode guardar cópias de documentos e fotos, mandar uma mensagem de despedida para seus conhecidos e planejar seu funeral. Você deve indicar até 99 "beneficiários" para o serviço, que devem notificar o site quando você morrer. Quando isso acontecer, o YouDeparted distribui as informações fornecidas por você aos respectivos amigos e parentes. O site é um dos mais completos do ramo, por assim dizer, e também um dos mais baratos: enquanto você não morre, tem que pagar anualmente entre 10 e 80 dólares, dependendo do plano que você escolher, com mais ou menos memória de armazenamento.

Legacy Locker

O serviço é mais simples: você cadastra os serviços que possui e escolhe um "herdeiro" pra cada um deles, que receberá as informações por e-mail. De resto, é igualzinho ao YouDeparted - seus amigos precisam confirmar o óbito antes de receber as informações e você pode armazenar o que quiser. A diferença é o preço: você pode desembolsar US$300 de uma vez e ter o serviço até sua morte, ou optar pelo plano anual e pagar US$30 por mês.

Slightly Morbid

Na verdade, o Slightly Morbid não guarda seus pertences, mas é uma forma de avisar que algo aconteceu com você. O usuário cadastra seus contatos, recebe um certificado e repassa instruções para uma única pessoa. Se você morrer, essa pessoa envia uma mensagem a todos os contatos cadastrados explicando o que houve. O serviço também pode ser usado da maneira contrária: se houve um acidente, por exemplo, é fácil avisar a todo mundo que você está bem. Os preços variam entre US$10 e US$50, de acordo com o número de contatos que você deseja informar.

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# 8/16/2009 12:00:00 AM, Comentários, Links para esta postagem,

Morte

death
Nosso limite, nosso fim. De Heráclito - que afirmava que constantemente damos diferentes formas a nossas vidas, mas que a última forma nos é dada pelos vermes - a Heidegger - que nos apresenta como um "ser para a morte": nossa única certeza, nossa limitação e, paradoxalmente, nossa possibilidade de ser-no-mundo - a morte aparece em suas diferentes faces e leituras, como possibilidades de vida.

Se estamos vivos, caminhamos para a morte, morremos a cada instante, mas também cultivamos a vida, com substituições de nossas células, com renovações de nosso ser. O mesmo fruto, diz Heráclito, é sadio e podre, também não seríamos nós, ao mesmo tempo, sadios e podres? Nossas organizações sociais nascem e morrem a cada dia, refazem-se, desfazem-se em novas formas, em colisão de ideias. Não há pleno sem a contradição, a divergência já anunciada por Heráclito é verificada diariamente. Se repetimos o mesmo, não há fluxo, não há vida.

"Quando morremos? Na verdade, morremos todos os dias. Morte são também nossas decepções, nossos projetos falidos, nossas ideias abortadas. Morte é tudo o que nega a vida. A morte definitiva, a que encerra todos os atos, a que nos apresenta a vida concluída, dessa não podemos tratar porque ela nos excede. Restam-nos os insucessos que a anunciam, neles acenam os signos do que não nos é dado alcançar. Esperamos e conjeturamos. Como poderíamos, de outro modo, elevar-nos acima da solidez dos corpos que nos cercam, assinalando-lhes a precariedade?" (SCHÜLER, 2001: 196).

Quantas vezes morremos em vida? Quantos projetos abortados? Quantas decepções? Num primeiro momento a morte nos atinge, congela, impede. Mas assim que vivemos nosso luto, que choramos nossos sonhos mortos, nova vida surge: novos planos, novas possibilidades, às vezes melhores que as anteriores. Quantas vezes se faz necessário que abortemos um projeto falido para darmos lugar a uma proposta mais condizente com as possibilidades reais? Quantas outras vezes necessitamos negar uma ideia para que outras possam surgir? Quantas vezes aquele que nos contradiz e nos provoca ao abandono de um posicionamento fechado nos impulsiona, ao mesmo tempo, ao renascimento, através de novas posições?

O problema é que tememos a morte, nos apavoramos diante dela, ao invés de vê-la como possibilidade de vida. Queremos somente a vida, o que é, como afirma Schüler, utopia. Não há vida sem morte, nem morte sem vida. Poderíamos ficar com Epicuro que nos garante que não devemos temer a morte, porque enquanto estamos vivos ela não está presente, e quando ela está, nós é que não estamos.

"Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida." (EPICURO, 2002: 29).

Apesar de inevitável, lutamos constantemente contra a limitação que nos é imposta. Buscamos todos os meios possíveis para preservar a vida. O desenvolvimento tecnológico, o investimento em medicamentos, as pesquisas sobre formas de ampliar os limites da vida são frequentes e buscados em larga escala na sociedade atual. Há quem aposte na construção dos ciborgues, considerando a mistura de silício com material genético como um ponto de partida para a imortalidade. Há quem defenda a possibilidade de um download de nossa consciência para uma máquina, permitindo assim a manutenção da vida em outro formato, em outro hardware, como, por exemplo, Kurzweil, em A era das máquinas espirituais.

Mas nos preocupamos com outras formas de morte? Claude Levi-Strauss, em Antropologia Estrutural, descreve algumas situações em sociedades primitivas, onde os condenados à morte simbólica - ou seja, aqueles que por algum motivo foram condenados por suas sociedades a serem tratados como se não existissem, como se tivessem morrido - em pouco tempo morriam de fato.

Quanta morte há, então, na indiferença? Afirma Buber, em Eu e Tu, que o contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença. A indiferença não provoca, exclui; não discorda, anula; impede a vida, mata. Diz Schüler: "Há espaço comum quando a diferença não provoca indiferença." (2001: 145). No espaço comum construímos, ampliamos as margens do rio que é e não é o mesmo. O espaço comum propicia a morte do mesmo para o surgimento do novo, do eu que se constitui junto-com-o-outro, daquele que sai do idiotismo e, em seu movimento, cria a vida.

Se buscamos a vida e tememos a morte, porque nos tornamos a cada dia mais ensimesmados? Por que constituímos uma sociedade cada vez mais individualista? Por que tratamos o outro com indiferença? Por que nos permitimos tratar com indiferença? Qual a diferença que fazemos no mundo onde vivemos? Se morte e vida são complementares, se morremos a cada dia e isso nos permite renovação, qual a nossa renovação diária?







Referências Bibliográficas:

BUBER, M. Eu e Tu. São Paulo: Centauro, 2008.
EPICURO. Carta sobre a felicidade - a Meneceu. São Paulo: UNESP, 2002.
HERÁCLITO. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis: Vozes, 1989.
KURZWEIL, Ray. Era das máquinas espirituais. São Paulo: Aleph, 2007.
LEVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. São Paulo: Cosac Naif: 2008.
SCHÜLER, Donaldo. Heráclito e seu (dis)curso. Porto Alegre: L&PM, 2001.


Morte e vida


"Vida só vida, vida sem sombra é visão utópica projetada para além do mundo de contradições, trabalho e guerra. Nessa utopia não haveria mudanças nem fluxo, nem trabalho. No extremo oposto teríamos o trabalho que não se renova, a impiedosa tarefa de Sísifo, vida sem lógica, sem Discurso. O Discurso revela-se no transcurso. Negados ambos os extremos, resta a vida-morte, vida que se refaz, transcorre." (Schüler)

"... não devemos temer a morte, porque enquanto estamos vivos ela não está presente, e quando ela está, nós é que não estamos"


Death

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# 1/19/2009 07:01:00 PM, Comentários, Links para esta postagem,