Intervalo
Instalada no Brasil (1808), a Família Real Portuguesa trata de estabelecer novas formas de dominação. Atendendo a interesses estranhos às necessidades brasileiras, começa um processo de desenvolvimento cultural, com tendências elitizantes. São criadas a Imprensa Régia e a Biblioteca Real. O ensino superior passa a receber especial atenção, embora não existisse, estruturado, um sistema de ensino primário e médio. O importante era a formação do "doutor". Continuamos, porém, sem nenhuma Universidade. Apesar da emancipação política (1822), a dependência econômica (agora da Inglaterra), a censura e a repressão ainda são grandes: a primeira Constituição (1824) dava poderes ilimitados ao imperador. A fase imperial registra tentativas de organização do sistema educacional que nunca tivemos e, a partir dai, algumas reformas educacionais tentam minimizar o verdadeiro caos em que se encontrava a educação brasileira.
Mais ou menos por essa época tem início, efetivamente, a história da Educação Física no Brasil. Os primeiros livros sobre a matéria chegaram, incluindo em seu conteúdo assuntos absolutamente diversos da Educação Física atual: eugenia, puericultura, gravidez etc. O Ginásio Nacional (hoje Colégio Pedro II), criado (1837) como instituição-modelo, incluiu a ginástica nos seus currículos. Em 1851, começa a legislação referente à matéria, obrigando a prática da ginástica nas escolas primárias do Município da Corte (Rio de Janeiro). No final do Império, foi recomendada a utilização nas escolas da ginástica alemã, que havia sido adotada nos meios militares. Essa ginástica vinha sendo aplicada oficialmente no Exército, e sua adoção nos meios escolares provocou reações por parte daqueles que viam a Educação Física como elemento da Educação, e não um mero instrumento para adestramento físico.
Apesar dos esforços para a implantação da Educação Física nas escolas, o período imperial não proporcionou estímulos pedagógicos significativos para os exercícios físicos. São duas as grandes áreas de influência: a médica e a militar. A primeira, por intermédio de diversas teses da Faculdade de Medicina, onde o tema era a Educação Física. A segunda, a partir de 1858, onde o exercício físico tornou-se obrigatório nas Escolas Militares, o que acabou servindo como meio de divulgação das atividades físicas. Essas duas tendências marcaram, historicamente, a evolução da Educação Física brasileira. No âmbito esportivo, o remo era o mais importante. Não tinha praticamente nenhum concorrente em popularidade.
Embora não julgasse merecer um lugar de destaque no setor educacional, a intelectualidade brasileira já demonstrava preocupação com a Educação Física. A maior dessas manifestações aconteceu por intermédio de Rui Barbosa. Os seus pareceres (1882) sobre a Reforma de Ensino Leôncio de Carvalho (1879) constituíram num pequeno tratado sobre Educação Física. Baseado numa rigorosa e exaustiva análise da história da Educação Física, Rui Barbosa adianta-se, em muitos anos, aos que pensavam sobre o assunto no Brasil. Numa época em que os professores de Educação Física ainda usavam paletó e gravata, ministrando suas aulas dentro das salas e por entre as carteiras, as recomendações de Rui soaram como uma verdadeira utopia. Entre as citadas recomendações destacamos:
a) obrigatoriedade de Educação Física no jardim de infância e nas escolas primária e secundária, como matéria de estudos em horas distintas das do recreio e depois das aulas;
b) distinção entre os exercícios físicos para os alunos (ginástica sueca) e para as alunas (calistenia);
c) prática de exercícios físicos pelo menos quatro vezes por semana, durante 30 minutos, sem caráter acrobático;
d) valorização do professor de Educação Física, dando-lhe paridade, em direitos e vencimentos, categoria e autoridade, aos demais professores;
e) contratação de professores de Educação Física, de competência reconhecida, na Suécia, Saxônia e Suíça;
f) instituição de um curso de emergência em cada escola normal para habilitar os professores atuais de primeiras letras ao ensino da ginástica.