Educação Física é Política?‌

As influências políticas na Educação Física são por demais evidentes, conforme pode ser constatado pela História. Em Esparta, os cidadãos tiveram os seus corpos modelados para os fins guerreiros a que estavam destinados. O circo romano, assim como o pão, era o maior instrumento ideológico de que se valiam os imperadores para falsear a realidade social. Em busca de prestígio, Nero, imperador romano, inscreveu-se na corrida de carros. Ato contínuo, proibiu a inscrição de qualquer outro competidor. Seria um campeão olímpico. Não conseguiu o seu intento. Caiu no meio do percurso! Em anos mais próximos, estadistas, empresários e intelectuais procuraram vender uma imagem saudável, deixando-se fotografar enquanto se exercitavam. Os estados totalitários sempre utilizaram esse expediente como mecanismo de poder. O nazi-fascismo é um dos seus exemplos mais significativos. Mussolini chegou a pedir aos seus ministros que fizessem exibições públicas de façanhas esportivas. O povo os tomaria por modelos e, envolvidos num clima de euforia atlética, mergulharia num profundo estado de alienação. O Estado brasileiro, recentemente, utilizou-se do expediente esportivo para fins excusos. Dentre alguns exemplos, podemos lembrar a coincidência de, num dos momentos de maior fechamento político do nosso país, acontecer a construção de um fantástico número de estádios de futebol. Estes abrangiam multidões - também fantásticas -, chegando-se ao absurdo de se construir um estádio em Erexim (Rio Grande do Sul) que, na época, seria capaz de abrigar quase toda a população da cidade.

image

Os Jogos Olímpicos da antiguidade grega eram um poderoso veículo de paz: paralisavam guerras. Os da atual idade estimulam-nas e retratam-nas. Recentemente, as Olimpíadas de Moscou ampliaram o problema. O então presidente norte-americano promoveu uma campanha de boicote - vitoriosa -, pois contou com o apoio de vários adeptos. Essa insensibilidade não o ajudou na sua pretendida reeleição e foi uma punhalada que feriu, talvez de morte, os Jogos Olímpicos. Principalmente levando em conta a cidade-sede da próxima competição: Los Angeles. O jornalista José Inácio -Werneck, num extraordinário lampejo histórico, afirmou que o presidente Cárter se transformou no imperador Teodósio I do século XX. Mas a interferência política vem de um passado bem distante. Para ser mais exato, desde 1896, quando o sonho de Coubertin tornou-se realidade. O chauvinismo grego, os problemas Alemanha-França e os vetos do Império Austro Húngaro à participação da Hungria e Boêmia com delegações independentes marcaram, politicamente, os I Jogos Olímpicos.

Daí em diante, nenhuma Olimpíada ficou isenta de ingredientes políticos e raciais. Feminismo - as mulheres conseguindo competir; racismo - brancos, amarelos e negros ficando em alojamentos separados; e o imperialismo - países impedindo que outros se representassem autonomamente - marcaram a realização das Olimpíadas até a sua 5ª edição, em Estocolmo (1912). A 6ª, que seria em Berlim (1916) recebeu apenas o registro cronológico, em virtude do advento do I Conflito Mundial. O impedimento da participação de vários países vencidos neste conflito marcou o reinicio das competições, em Antuérpia (1920). As hostilidades entre franceses e alemães caracterizaram, politicamente as três competições seguintes. Chegamos finalmente à XI Olimpíada: 1936, Berlim, Hitler. Traindo a não- discriminação prometida ao Comitê Olímpico Internacional, o ditador transformou a competição num verdadeiro espetáculo de arbitrariedade política, religiosa e racial. Preocupado em vender a ideologia nazi-fascista, tudo foi organizado com o maior "carinho", antevendo a vitória da raça ariana. Em vão. O atletismo era onde mais poderia ficar evidenciada a superioridade apregoada. Doze medalhas de ouro foram ganhas pelos EUA, sendo nove obtidas por negros. Após um destes, Jesse Owens, ganhar a sua quarta medalha, a teoria e a pretensão nazista não se confirmariam no terreno esportivo.

O segundo Conflito Mundial impediu a realização dos XII e XIII eventos que, mais uma vez, foram registrados simbolicamente. As três Olimpíadas seguintes continuaram a acentuar rivalidades ideológicas, até que Roma (1960) assinala uma ostentação política sem precedentes. Essa retrospectiva termina tragicamente: Munique, 1972. O brilho esportivo do nadador judeu Mark Spitz e suas sete medalhas de ouro foi ofuscado pelo massacre promovido por um grupo terrorista palestino à concentração israelense. Saldo: 18 mortos.

Política à parte - será possível? - o desempenho atlético tem atingido níveis nunca antes imaginados. Bob Beamon saltou 8,90 metros em distância. João Carlos de Oliveira conseguiu 17,89 metros no salto triplo. Os modernos

métodos de treinamentos, os sofisticados laboratórios de fisiologia do exercício e a indústria de material esportivo têm a responsabilidade por esse incontrolável avanço técnico. Esse tecnicismo tem sido nos dias de hoje o principal responsável pela aceitação da Educação Física como ciência.

|