Educação Física é Ciência?
Desde a antiguidade clássica muitos pensadores consideraram a ginástica uma ciência. Aristóteles, quando a ela se referia, chamava "a ciência da ginástica". Filostratos também já dizia:". .. e à ginástica, nós a denominamos ciência". Quando as ciências começaram a se desvincular da Filosofia, muitas considerações foram feitas sobre o real significado do que seja ciência. Etimologicamente, significa saber, conhecimento (do latim scire) e, novamente, o auxílio de Aurélio Buarque de Holanda é valioso: "ciência é o conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio".
Normalmente aceita-se que o método empregado determina se uma área do conhecimento pode receber o crédito de científico. Para isso, é necessário que o seu objeto seja investigado com a utilização do chamado "método científico". Este método pressupõe ser possível a previsão da ocorrência de um determinado fato, se as condições que se apresentarem forem semelhantes àquelas já experimentadas. O seu rigor impõe, ainda, uma validade científica somente à observação empírica, aquela que considera o seu objeto diretamente. E toda essa observação é dirigida a uma realidade objetiva, externa ao indivíduo.
Exatamente a partir da concepção do que seja Educação Física, podemos considerá-la como ciência deste ou daquele tipo. Ao valorizar os aspectos médicos ou os resultados técnico-esportivos de alto nível, fica mais fácil aceitar a Educação Física como ciência. As possibilidades de previsão e de generalização (leis) dão um caráter científico à Educação Física, mas lhe criam um problema. Deixam-na desprovida de valores, só levando em conta os fatos observáveis e mensuráveis. Identificada com as ciências humanas e sociais, a Educação Física assume uma postura pedagógico-social que lhe confere uma dignidade insuperável, apesar de, nessa ótica, carecer daquelas "certezas científicas". A imparcialidade na observação é difícil, na medida em que há um envolvimento afetivo e de valores do pesquisador com o seu objeto. Além disso, a validação da experiência pela repetição é impossível. O que não acontece com um químico, suas cobaias e tubos de ensaio, onde tudo concorre para que o pesquisador controle de forma absoluta as variáveis em jogo.
A Psicologia, Filosofia, Pedagogia etc., por suas próprias características, não atendem a essa imposição. Ao respeitar os seres na sua individualidade e em suas relações sociais, prejudicam aquela pretendida previsão científica. Ou as ciências humanas e sociais nunca atingirão um reconhecido status, ou o método científico não é uma condição sine qua para
que o atinjam. Não há dúvida de que estas ciências já estão consagradas como tal, contendo um objeto de investigação e métodos próprios. O que postulam é um espaço mais significativo no mundo científico. Muitos analistas já dispensaram boa parte da sua reflexão ao problema da Educação Física como ciência. Vários autores citaram-na como "ciência dos exercícios físicos" ou "ciência esportiva". A denominação "ciência esportiva" foi adotada pelos que preteriram a expressão "Educação Física" pela de "Esporte". Outros consideram a Educação Física como parte de uma ciência já reconhecida, como a Medicina ou a Pedagogia. Ciência independente ou parcialmente dependente de outras, o que não se discute é a sua interdisciplinaridade, pois contém ramificações da já citada Medicina, Pedagogia, como também de Sociologia, Psicologia e Antropologia, destas também extraindo os seus métodos de investigação. Não se põe em dúvida, entretanto, o objeto da Educação Física: o movimento humano. Enquanto ciência, seria pois, a que estuda o homem em movimento.