Educação Física é Esporte?

Um palco qualquer, num país também qualquer, independente de coloração ideológica. Milhares de pessoas aplaudindo, gritando, extravasando emoções e frustrações acumuladas. E o poder do esporte e a saudável atração que exerce sobre todos os segmentos da sociedade contemporânea. O público esportivo aumenta cada vez mais e fica difícil acreditar que havia mais telespectadores na luta de boxe Clav X Foreman em 1974, no Zaire, do que no desembarque do homem na lua, apesar de realizado cinco anos antes.

Praticado pelo homem desde as mais remotas épocas, o esporte tem suas raízes etimológicas no francês desport, que os ingleses alteraram para sport. O termo tinha, então, a conotação de prazer, divertimento, descanso. E, apesar das diversas nuances que o esporte assumiu ao longo do nosso século, as pessoas continuam fiéis ao seu sentido original. Até hoje, por exemplo, quando se pretende manifestar algum descompromisso, diz-se que se fez alguma coisa por esporte.

Apoiado nesse conceito, o lúdico aparece como sua característica básica, na medida em que o esporte será sempre um jogo, antes de mais nada. Mas várias funções são acrescentadas a essa ludicidade e, com essa diversificação, torna-se difícil delimitar o campo conceitual do esporte. As competições motorizadas e os jogos intelectuais (corridas de carro e xadrez, por exemplo) ilustram atividades que revelam o grau de dificuldade dessa análise. O esporte tornado profissional também embaraça a tentativa de se entender o esporte. Se considerarmos amador como o praticante do esporte pelo simples prazer de praticá-lo, um jogador que ganha dinheiro fazendo gols já não faz esporte, está trabalhando. Por outro lado, obras com denso conteúdo sociológico observam o esporte tanto como preenchimento do tempo livre, como também como meio de sobrevivência. É o caso de Georges Magnane que, em busca de uma definição para o esporte, considera-o "uma atividade de lazer cuja predominância é o esforço físico, participando simultaneamente do jogo e do trabalho, praticada de maneira competitiva, comportando regulamentos e instituições específicas, e suscetível de transformar-se em atividade profissional".

Um outro aspecto importante é a preocupação com o rendimento. Coubertin já afirmava ser o esporte "o culto voluntário e habitual do esforço muscular intensivo, apoiado no desejo de progresso e podendo ir até o risco". O próprio lema olímpico revela a busca do rendimento máximo como um objeto primordial: Citius, Altius, Fortius (mais veloz, mais alto, mais forte). O fascínio pela superação, intrinsecamente, não é um fato bom nem mau. Levado a extremos, cria sérias deformações. Nas escolas, a busca de campeões conduz à especialização prematura, inibindo o desenvolvimento do potencial psicomotor das crianças. Destas, passa a ser cobrada uma perfeição técnica na execução dos gestos esportivos. Os alunos passam a ser encarados como futuros atletas e não, simplesmente, como pessoas. As influências tecnicistas fazem com que a atividade do jogo esteja sistematicamente voltada para o desempenho e para os resultados de alto nível. Nesse caso, os menos habilidosos, que seriam os maiores beneficiários do esporte, são marginalizados e preteridos em benefício dos talentos. A Educação Física pode permitir essa discriminação?

Independente do ângulo do observador, a força do esporte é irresistível e, em alguns lugares, o seu conceito universalizou-se. Nos países de línguas germânicas, a partir de antigos modos de entender a Educação Física adotou-se o termo esporte generalizadamente, significando qualquer modalidade de exercício físico. A supervalorização do esporte pode, sem dúvida, acarretar problemas incontroláveis. A colocação da Educação Física como sinônimo de esporte induz a concebê-la, essencialmente, como competição, e cria o recorde como o seu objetivo fundamental. Essa tendência esportiva para a Educação Física atual reflete um mecanismo baseado nos interesses político-ideológicos que caracterizam a nossa sociedade.

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