A Educação Física e a Inteligência
Atualmente, muito se fala em escolas para desenvolver o raciocínio. A idéia é bem antiga, e já na época de Sócrates (século V a.C.) encontramos esse objetivo como fundamental no processo educativo. A própria maiêutica socrática era um método que se propunha a levar o discípulo a descobrir a verdade: era a arte de fazer nascerem as idéias.
O homem, enquanto ser total, não pode prescindir da inteligência nas suas ações, inclusive motoras, é muito difícil - senão impossível - estabelecer limites entre a aprendizagem motora e a intelectual. Quando acontece a primeira, seguramente está ocorrendo a segunda. A atividade física, havendo de ser aprendida, não pode ser considerada unicamente no plano motor. Apresenta também valores intelectuais.
A integração físico-mente (material-imaterial) surge de inferências feitas desde a pré-história. Há três ou quatro milhões de anos, apareceu o primeiro ser bípede (homo hábilis), possivelmente o primeiro exemplar de quem hoje chamamos homem. O saudoso Cagigal, um dos maiores pensadores da Educação Física contemporânea, considera o fato como o inicio do processo de tecno-intelectualização do homem. Tecno-intelectualização não representa a adaptação da inteligência a uma determinada técnica, mas o processo de intelectuaiização integrado à ação. Uma autêntica revolução tem início quando as mãos são liberadas do solo. O homem começa a construir ferramentas. Não se tem certeza de que a liberação das mãos aconteceu em virtude da necessidade de construir ferramentas, ou se esta necessidade promoveu aquela liberação. Quem nasceu primeiro, o ovo ou. . .? Não importa. Vale a constatação de que o processo de desenvolvimento da inteligência humana sempre esteve em constante comunhão com o movimento. Atualmente já não se considera como inteligência a simples capacidade de compreensão. A criatividade seria a manifestação suprema de inteligência. A própria inteligência. A moderna tecnologia é capaz de reproduzir eletronicamente várias faculdades humanas (observação e memória, por exemplo), menos uma: o poder criativo. Este só se deve esperar do homem. Através do desenvolvimento desse potencial, as pessoas encontram-se consigo mesmas,
ao mesmo tempo que se habilitam a estabelecer relações com o meio ambiente. O excesso de tecnicismo (gerador de hábitos) afasta a Educação Física de sua fundamental participação no desenvolvimento da inteligência (criatividade). No momento em que, pela ginástica ou pelo esporte, as atividades são baseadas na repetição, não está havendo mais Educação Física.
Em aulas - principalmente nas escolas, onde é pecado mortal - o professor está sempre pensando no lugar do aluno. Se uma corda é estendida na quadra e a tarefa consiste em "passar para o outro lado", imediatamente o professor pede que o façam com um pé, depois com ambos os pés, saltando e girando no ar, ou passando por baixo. Estão sendo dadas as possíveis soluções do problema que era dos alunos, e não do professor. Em lugar de ordens, deveríamos facilitar descobertas: "Quem consegue passar para o outro lado da corda?".