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MÚSICA ELETRÔNICA/ELETROACÚSTICA
Música Eletrônica viva (Música Eletroacústica em tempo real)
Música Acusmática
Computer Music
A denominação Música Eletrônica, no contexto da hipótese aqui apresentada, parte de um princípio conceitual que caracteriza genericamente a composição eletrônica como ponto de partida de um processo de análise indutiva que, de forma gradativa, particulariza o conceito dessa denominação. Há que se destacar, inicialmente, o equívoco cometido por leigos e até mesmo por músicos profissionais, acerca do uso deste termo, assim como na utilização da tecnologia eletrônica na composição musical. Neste sentido, a lucidez das palavras do compositor Flo Menezes , no caso, acerca da música ou composição eletroacústica, são significativamente esclarecedoras e podem ser referenciadas à denominação Música Eletrônica:
Entre nós [brasileiros], o termo música eletroacústica pode suscitar certa confusão. Desacostumado com a prática erudita da composição contemporânea [sem grifo no original], o ouvinte leigo e até mesmo o musicista profissional se depara com a desmotivada situação de desamparo do ensino musical brasileiro, decorrente da qual se vê confrontado com um profundo isolamento face às mais corriqueiras aquisições técnicas e tecnológicas da música contemporânea internacional. Corroborada pela desproporcional hipervalorização da música de mercado [sem grifo no original] em nosso país, a música eletroacústica de vanguarda não raramente passa a ser confundida com as práticas musicais associadas ao rock ou ao free jazz. [...] A música ou, mais especificamente, a composição eletroacústica nada tem que ver com o mero uso de aparelhos elétricos [sem grifo no original]. Decorrente da própria evolução da linguagem musical de vanguarda, o advento da música concreta e eletrônica nos anos 40, mesmo quando pretendia estabelecer pura ruptura com determinados aspectos da escritura musical, não pode ser compreendido desvinculada desta última. No fundo, por mais que o resultado final de uma obra eletroacústica faça com que o intérprete e sua partitura desapareçam, por mais que possa ser circunscrito a uma "mera" reprodução de uma fita magnética (digital ou analógica), o conceito de escritura encontra-se, de alguma forma, por detrás da prática composicional em estúdio. Neste sentido o conceito de escritura musical cede lugar ao de pura elaboração. E é a partir daí que uma clara linha demarcatória se estabelece entre a obra de vanguarda e as tendências mais mercadológicas, ainda que estas possam parecer tão "experimentais" [sem grifo no original]. 1
É neste sentido que o termo Música Eletrônica, no contexto desta pesquisa, não se refere simplesmente a toda música realizada com recursos elétricos e/ou eletrônicos: antes de tudo, define uma estética e uma prática composicional específica. Estas últimas se distanciam - tanto no sentido estético como no sentido da prática composicional propriamente ditos - de certas tendências autodenominadas vanguardísticas, mas que (do ponto de vista composicional) representam, na verdade, uma "diluição" do desenvolvimento da linguagem musical.
O gráfico (em terminação de arquivo .doc/WinWord) demonstra a particularização do conceito de Música Eletrônica proposto: a construção desse conceito se dá, num primeiro momento, pela tipologia dos timbres e dos seus processos de criação e manipulação que integram as tendências inclusas da Música Eletrônica.
Desta forma, a conceituação parte de uma abrangência denominativa que qualifica a Música Eletrônica como um gênero musical que "inclui todos os sons registrados por microfones (Musique Concrète - a vertente francesa, surgida em Paris -, na qual os sons naturais são, após o registro propriamente dito, reprocessados através de recursos eletrônicos)[...], e também aqueles produzidos por geradores eletrônicos de sons" (Elektronische Musik ou Música Eletrônica "pura" - a vertente alemã, surgida em Colônia -, no sentido de que os sons são sintetizados ou construídos utilizando-se exclusivamente aparelhos eletrônicos).
As primeiras composições eletrônicas foram realizadas "em estações de rádio, onde já havia disponibilidade de equipamentos. Entre as primeiras a afirmar autoridade no campo estiveram a Radiodiffusion Française em Paris e a Nordwestdeutscher Rundfunk em Colônia, cujos estúdios logo se tornariam centros de facções opostas de compositores que utilizavam recursos eletrônicos. (...) O diretor do estúdio da Radiodifusion, Pierre Schaeffer (1910-1995), compôs uma série de peças de Musique Concrète, várias delas em colaboração com Pierre Henry (1927), que o sucederia no cargo. O primeiro trabalho importante dos dois, criado com técnicas de disco, foi a Symphonie por um Homme Seul (1949-50), uma das primeiras obras eletrônicas a serem apresentadas em execução pública." 2
"Em Côlonia, no estúdio da WRD (Nordwestdeutscher Rundfunk e, posteriormente, denominada Westdeutscher Rundfunk) a situação era bem diferente. Karlheinz Stockhausen, dedicava tanto tempo ao estúdio quanto à composição instrumental, não se preocupando em transformar sons naturais, mas em criar música eletrônica "pura" exclusivamente com os novos recursos. O objetivo do grupo de Colônia era sintetizar todo e qualquer som a partir de freqüências puras [sem grifo no original], e foi o que Stockhausen tentou em Studie I (1953). Mas a experiência fracassou. As sonoridades puras não se cristalizavam, como ele esperava, e a idéia teve de ser abandonada até o advento de métodos e equipamentos mais sofisticados. Em certo sentido, no entanto, o projeto foi um sucesso, pois Studie I , como as outras peças eletrônicas iniciais de Stockhausen, parece o mais próximo possível da perfeição, considerando-se os aparelhos incipientes e as técnicas primitivas então disponíveis." 3 O próximo trabalho de Stockhausen, Studie II (1954), apresenta uma solução mais satisfatória no que se refere a aplicação de suas teorias acerca do controle timbrístico.
O estúdio de Elektrohishe Music, desenhado por F. Encke (amplamente fundamentado a partir das sugestões de W. Meyer-Eppler) para a Northwest German Radio (WRD), no início dos anos 1950.
A utilização simultânea de sonoridades concretas e sons eletrônicos puros resulta, do ponto de vista exclusivo do material sonoro utilizado, na realização de Música Eletroacústica, que tem na peça Gesang der Jüngling (1955-56) (O Canto dos Adolescentes) de Stockhausen, o exemplo pioneiro e mais significativo. Nesta obra do compositor alemão, as sonoridades concretas e eletrônicas puras formam uma tessitura sonora que compatibiliza técnica e esteticamente as duas tendências. Segundo Paul Griffiths, "a mediação entre Paris e Colônia estabeleceu-se (nesta obra), em que Stockhausen utilizou tanto sons naturais (a gravação da voz de um menino) quanto materiais gerados eletronicamente". 4
(Mas é importante ressaltar aqui que uma outra mediação, tao significaativa quanto a citada anteriormente, havia sido realizada já no ano de 1952, ou seja, a utilização simultânea de instrumentos e fita (Música Eletroacústica Mista). Musica su Due Dimensione, do compositor italiano Bruno Maderna, havia sido escrita para flauta, pratos e fita magnética, vindo a ser a primeira obra a aproximar os sons familiares de instrumentos tradiconais (no caso, flauta e pratos) às sonoridades registradas na fita magnética).
Esse esclarecimento acerca da Música Eletrônica e das suas derivações composicionais, apresenta-se extremamente oportuno no contexto da presente pesquisa, em função do seguinte aspectos: alguns autores, tais como Tom Rhea, utilizam muito apropriadamente o termo "música eletrônica" para diferenciar a música produzida em Colônia (Elektronische Musik ou música eletrônica "pura") daquela realizada em Paris (Musique Concrète). No âmbito deste trabalho, o termo parte de uma conceituação genérica que especifica o uso de aparelhos eletro-eletrônicos na composição musical das duas vertentes supracitadas. A ênfase dada à composição musical tem aqui uma importância fundamental: retira da conceituação qualquer possibilidade de se considerar que as composições eletrônicas são elaboradas apenas pelo mero uso de aparelhos eletro-eletrônicos. Há, pois, o trabalho imprescindível de escrita musical e elaboração composicional. Na realidade, a Música Eletrônica caminhou para um hibridismo timbrístico e composicional, a partir do que Flo Menezes chama de "concretização" da "música eletrônica pura" através da inclusão da voz humana. Tal fato parece ter amenizado a oposição Paris-Colônia, redundando em uma denominação que abrange as conseqüências composicionais de ambas as "escolas"; ou seja, a "Música Eletroacústica". Nas palavras do compositor:
Neste trecho da excepcional obra organizada por Flo Menezes, Música eletroacústica: história e estéticas, as suas colocações são extremamente significativas. Além de justificar a utilização do termo música eletroacústica, enfatiza o fato de que, na composição musical - e, especialmente na composição musical que se utiliza de recursos eletrônicos, o fator que deverá ser sempre uma prioridade relaciona-se fundamentalmente à organização e elaboração composicionais que, por sua vez, engendra uma semântica musical compatível com o material sonoro utilizado.
A opção por se utilizar, no corpo dos textos que integram a presente pesquisa, a terminologia "Música Eletrônica" (com iniciais maiúsculas, para diferenciá-la da música eletrônica (Elektronische Musik ou Música Eletrônica "pura") da vertente alemã) - na perspectiva de se relacionar a Musique Concrète, a Elektronische Musik e a Música Eletroacústica a um único conceito - segue as orientações básicas de três autores, a saber: Paul GRIFFITHS, David ERNST e Peter MANNING. Paradoxalmente - se se considerar as colocações de Flo Menezes - poder-se-ia conjecturar que, na pesquisa aqui desenvolvida, os termos "Música Eletrônica" e "Música Eletroacústica" se equivalem: ao se optar eventualmente pelo uso do primeiro, tem-se consciência de que esse termo define (também genericamente) uma estética composicional que - sendo devedora de uma mesma tradição musical - sustenta-se não apriorísticamente nas conquistas tecnólogicas da modernidade, mas sim do desenvolvimento da linguagem musical ocidental.
Desta forma, a pesquisa acerca da Música Eletrônica (a aplicação, por parte dos músicos da Escola de Paris e da Escola de Colônia, de recursos eletrônicos à composição musical a partir do desenvolvimento da tradição musical do Ocidente), no contexto do presente trabalho, é a pesquisa mesma acerca da Música Eletroacústica, no sentido de que este último termo indica a "concretização" (ou, mais exatamente, a utilização da voz por parte dos compositores de tradição pós-weberiana da Escola de Colônia) da Elektronische Musik (Música Eletrônica "pura"), a vertente alemã e que se opunha à vertente francesa, ambas aqui consideradas genericamente como sendo úsica letrônica.
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*Para uma descrição suscinta do termo, clique aqui.
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