Antes de tudo, o poder
Roma foi a herdeira direta de dois povos, os etruscos e os gregos. Dos etruscos, os romanos receberam influxos determinantes, principalmente no campo artístico e esportivo. Mas foi dos gregos a influência mais significativa, respeitadas as particularidades do homem romano. Este nunca se entregava às suas práticas por puro diletantismo. Impregnado por um realismo que o distinguiu na Antiguidade Clássica, todas as suas realizações culturais estavam marcadas por um espírito eminentemente utilitarista. O estímulo a realizações pessoais não se fez presente, dando lugar ao ideal coletivo que caracterizou o mundo romano.
O local onde, originariamente, os romanos praticavam suas atividades físicas era o gigantesco Campo de Marte, que media 3 km de extensão por 1,5 km de largura, onde mais tarde foram construídas algumas das mais importantes instalações esportivas. Tão próximos e tão distantes dos gregos, era aí que os jovens romanos se reuniam e passavam por um adestramento capaz de habilitá-los para o cumprimento dos seus ideais expansionistas e do seu compromisso cívico. "Doce e belo é morrer pela pátria", cantou Horácio. Apesar da escassa documentação sobre o início da história romana, sabemos que praticavam a equitação, corridas de velocidade e resistência, natação, pugilato, luta, arco e flecha e esgrima, entre outros.
Em Roma não vamos encontrar atividades que tenham a mesma expressão do esporte grego. Ludus tinha a conotação de treinamento ou de jogo, não implicando necessariamente competição. Os participantes desses jogos eram atletas profissionais que nem de longe podiam ser comparados aos padrões éticos e estéticos dos seus colegas gregos. A ginástica perdeu o sentido do belo, prestando-se apenas para formar um protótipo de virilidade. A aspiração humanista que animava o esporte grego jamais contagiou o cenário romano, mais identificado com os circos, anfiteatros e termas do que com os ginásios, palestras e estádios.
A história da Educação Física em Roma pode ser contada à luz da análise das suas instalações esportivas, onde eram realizados os seus ludi. A mais antiga de todas foi o circo, concebido para a realização das corridas de carro - a grande paixão dos romanos -, além de corridas a pé e lutas. O mais antigo e amplo desses circos foi o Máximo, construído ainda no período monárquico (até 509 a.C.). Ali podiam ser acomodados 385 000 espectadores.
O anfiteatro tem suas origens já no final do período republicano (509/27 a.C.) e foi idealizado para abrigar festas religiosas e populares. O mais famoso dentre eles foi o Coliseu, comportando mais de 100 000 pessoas.
Tanto os circos como os anfiteatros representam, sob algum aspecto, a decadência da civilização romana. No período imperial (a partir de
27 a.C), transformaram-se nos locais em que multidões entusiasmadas exultavam com as deprimentes exibições dos gladiadores, lutando entre si ou com animais. Esses locais também foram palco dos degradantes espetáculos de sacrifícios humanos, onde os primitivos cristãos eram devorados por feras. Todo esse contexto fazia parte da política do "pão e circo". Os imperadores angariavam a simpatia popular, distribuindo rações diárias de trigo e alienando a plebe com esses artifícios "esportivos", de inspiração ideológica.
Os romanos, já sob a influência grega, também edificaram os seus estádios. Estes, que foram o principal cenário dos Jogos Olímpicos, não desfrutaram a mesma grandeza em terras romanas. Na verdade foram conhecidos juntamente com a introdução do esporte helênico em Roma (186 a.C.) e estavam destinados às competições atléticas e às lutas. Os romanos copiaram, porém, um modelo já decadente, sendo levados a uma prática deformada. Não perceberam que a grandeza do esporte não estava na sua simples prática, mas sim no espírito que a animava.
Cabe ainda uma referência especial às termas, as instalações mais importantes da época imperial, que serviam para preencher a ociosidade provocada pelo enriquecimento das conquistas. No começo da era cristã, o número de termas girava em torno de oitocentos, algumas capazes de receber milhares de pessoas simultaneamente. Luxuosíssimas, essas casas de banho não mais cumpriam suas finalidades higiênicas e simbolizavam o relaxamento dos costumes que caracterizou o declínio do imperialismo romano. A moral romana, que havia repudiado a nudez do atleta grego, permitia, agora, a freqüência até de suas crianças nas termas, em lugar dos ginásios gregos.
Em meio a essa catástrofe pedagógica, existem aqueles que, em nenhum momento, perderam a lucidez, conseguindo cultivar o espírito humanista da educação grega, é o caso de Juvenal, poeta satírico romano do século II d.C. que, reencarnando concepções platônicas, rogou: "ê preciso pedir aos céus a saúde da alma com a saúde do corpo".