O renascimento dos Jogos Olímpicos

A análise evolutiva da Educação Física ao longo do século XX começa com uma personagem considerada como a figura mais representativa do cenário esportivo contemporâneo. Pierre de Fredy, barão de Coubertin, era um francês que tinha formação em filosofia, além de se interessar por música, poesia, literatura, história e, é claro, pela prática esportiva. Ao longo de sua rica existência lutou em duas grandes frentes: a educação popular e o esporte. Em

nome dos trabalhadores e da juventude forjou o humanismo da sua obra, sendo, porém, no âmbito esportivo que ficou historicamente dimensionado.

Inspirado nos ingleses, pretendia colocar o esporte como elemento da Educação Física. Após introduzir o esporte no sistema educacional francês, parte para a sua grande missão, esta a nível internacional: restaurar os Jogos Olímpicos. Depois de conseguir a adesão de diversos países à causa olímpica, convoca um Congresso internacional, na Universidade de Sorbonne, que definiria os princípios do amadorismo e o ano oficial (1896) do renascimento dos Jogos.

Apesar de muitas de suas atividades revelarem um elevado sentimento patriótico - exacerbado pela derrota francesa na guerra com a Prússia - não se pode considerar Coubertin o líder de nenhuma das correntes, nem mesmo a francesa, em virtude do caráter universalista das suas idéias. Os ideais do fundador do olimpismo contemporâneo são ilustrados na doutrina olímpica: "O importante nos Jogos Olímpicos não é vencer, mas tomar parte; o importante na vida não é triunfar, mas esforçar-se; o essencial não é haver conquistado, mas haver lutado". Pierre de Coubertin faleceu na Suíça, onde foi enterrado, mas o seu coração - conforme o seu desejo - foi levado para Olímpia, na Grécia, onde jaz sob uma coluna de mármore.

No campo específico da ginástica, o século XX registra os maiores avanços. Uma tendência artística, de origem alemã, recebe contribuições do teatro, dança e música. Os artistas libertaram-se dos modelos impostos e foram estimulados à execução dos movimentos naturais e espontâneos, expressando suas emoções autenticamente. Essas experiências foram transferidas para a Educação Física, surgindo sistemas de ginástica que, apesar de rítmicos, não eram dança.

Uma segunda tendência, esta de ordem pedagógica, manifesta-se na Áustria, Suécia e França. Na Áustria, da década de vinte, surgiram defensores dos exercícios naturais realizados ao ar livre. Criaram uma ginástica natural e fundamentaram cientificamente a Educação Física, integrando-a filosoficamente no painel pedagógico. A aplicação da doutrina natural austríaca foi interrompida com a subida de Hitler ao poder, em 1933. O nacional-socialismo impõe a aplicação do sistema Neuendorf - baseado no Turnkunst - de cunho patriótico-social. Esse sistema tinha como objetivo a preparação militar, de acordo com a ideologia que dominou até 1945. A Suécia, à mesma época, reage contra a rigidez e a artificialidade da ginástica sueca. Na França, no começo do século XX, surge outro método natural. Originário da observação da vida do homem primitivo, também era contrário a qualquer artificialismo e às tradicionais vozes de comando, tão em moda nas aulas de Educação Física.

A terceira tendência - médica - teve os seus maiores representantes em médicos franceses e dinamarqueses. A partir de estudos sobre fisiologia e biomecânica, conferem um caráter que, em Educação Física, tem sido o único a merecer o rótulo de científico. Na Suécia e na França são feitas tentativas de

criação de modelos que sintetizassem as tendências pedagógica e médica, evitando as unilateralidades dos sistemas então vigentes. Uma das maiores contribuições suecas foi o grande impulso que deu a uma antiga tendência desse povo, com o aparecimento da "Ginástica para Todos", em 1912, objetivando estender a prática de atividades físicas à totalidade da população.

Podemos entender que as primeiras décadas do século XX marcaram uma reação aos movimentos estereotipados e analíticos preponderantes até a 1a Guerra Mundial. Estes exercícios, com finalidades essencialmente terapêuticas e com características quase sempre militares, definiam um perfil eminentemente anatômico e fisiológico para os sistemas de ginástica. A reação provocada evidenciou uma preocupação maior com o homem integral, preterindo-se os métodos que enfatizavam o seu componente somático.

No final da década de trinta tem início um grande intercâmbio pedagógico-cultural proporcionado por congressos internacionais de Educação Física. A realização desses eventos fez desaparecer a conotação nacionalista que caracterizara mais de um século da ginástica contemporânea. Ainda assim, é possível detectar as iniciativas que, veiculadas pelas correntes originais, contribuíram para o quadro internacional da Educação Física.

Os ingleses tiveram os seus méritos reconhecidos, na medida em que viram os esportes incluídos nos currículos escolares de todo o mundo. Em relação ao esporte de competição, observamos a sua difusão principalmente após o renascimento dos Jogos Olímpicos. Nestes, pouco a pouco, percebemos a interferência de fatores político-ideológicos e raciais, maculando os ideais de Coubertin. Na órbita germânica, a tendência musical evoluiu e a sua aplicação estendeu-se ao campo masculino. A ginástica natural sofreu um processo de revitalização, após a queda de Hitler. Na Noruega, vemos nascer, em 1967, um movimento que se denominou TRIM (Esporte para Todos). Esse movimento assumiu caráter internacional e é bem representativo do espírito democrático que norteia os países escandinavos. A maior contribuição na órbita francesa surge na década de sessenta, quando professores de Educação Física aprofundaram-se nos estudos de Psicomotricidade, enriquecendo os programas de Educação Física, principalmente na área pré- escolar.

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