Criticando Ki

Estou mais do que no lucro: no semestre passado, um casarão de esquina na Fonte da Saudade ia ser posto abaixo. Daria lugar a um big prédio residencial. Acompanhei o estardalhaço do lançamento do empreendimento que, lá pelas tantas, desandou: os corretores se foram e a casa permaneceu fechada. Firme e forte. Ufa! No começo deste mês, já com a fachada pintada de verde, passou a funcionar ali o japonês Ki, onde jantei no último sábado. Ter um japa vizinho de casa era um sonho de consumo que alimentava há tempos... Aliás, a oferta gastronômico neste trechinho da Lagoa tem crescido bem. Além de duas padarias completíssimas (com bom café da manhã), temos um bistrô gostoso (o Guy, que, felizmente, vai muito bem das pernas) e, agora, o Ki. Mas, talvez ainda sugestionada pelos restaurantes caprichadíssimos (vários orientais) que visitei em Paris e Londres durante as férias, estranhei o ambiente do Ki: é bastante acanhado. Como é recém-inaugurado, pode não estar totalmente pronto. Tomara. Uma das atrações dali é a carta de saquê, mas que não traz um exemplar nacional sequer. Aprendi com a Marina Tasaki (pioneira nesse tipo de cozinha no Rio), que o saquê é perecível - daí, de quanto mais de perto ele vier, mais fresco será. Costumo pedir a versão brasileira. Mas o preço da dose do importado não é exorbitante: bem servida em taça bacana, custa R$ 19. Não é um japonês barato. Uma robata de camarão custa R$ 39,90, mesma cifra da lula recheada com shimeji. O sushiman, Jorge Omura, é experiente. Sugere coisas como polvo gelado, um fresquíssimo marinado de suco de laranja, molho teriyaki e gelo (R$ 26); tataki de salmão com nirá regado com um fio de azeite de limão (R$ 33); e dupla de sashimi de vieiras (R$ 19,90), corretíssima. Mas bom mesmo é beber e voltar caminhando para casa; é comer tendo o vizinho na mesa ao lado (e depois trocar impressões no elevador). Isso é que é política de boa vizinhança. Mas o que não dá é chamar o Ki de um kappo cuisine, a alta gastronomia japa em ambiente requintado. Seria ótimo que fosse. Mas não é.