Criticando Le Vin - Ipanema

A história desse bem-sucedido bistrô é curiosa: o dono (Francisco Barroso) é um carioca que fez fama de restaurateur em São Paulo. Feito (acho eu) inédito. E foi só quase uma década depois de estar mais do que estabelecido e prestigiado entre os paulistas que Francisco finalmente trouxe o Le Vin para o Rio. Abriu em Ipanema (2007) e, no final de 2009, na Barra. Hoje, com a mulher e filhos, administra nada menos do que nove restaurantes de cozinha e visual praticamente iguais. Posso imaginar a batalha que é manter o padrão de tantas cozinhas ao mesmo tempo, não sendo fast food, nem saladeria. Não conheço as nove casas. Na verdade, só conheço duas, uma em São Paulo, onde almocei na semana passada (e me senti no Rio), e a de Ipanema, onde já almocei, jantei e lanchei inúmeras vezes. Guardo bons registros do lugar, apesar de implicar com as instalações (anda precisando de retoques) e com seus banheiros. Mas o que me chama a atenção no Le Vin é a constância da cozinha - e não queria dizer, mas devo: é paulista. Tudo ali chega todo dia, toda hora, exatamente do mesmo jeito. Se você gostou dos rins com mostarda, vai continuar gostando; se não gostou, esquece: da próxima vez vai chegar igualmente horrível. Não tem erro. No meu ranking de melhor steak tartare da cidade (prato do qual estou sempre correndo atrás), o do Le Vin sai na frente. Já andou até emparelhado com o do Gero, mas como o do bistrô é mais barato (R$ 39), vai para o pódium. Na boca, vem um pouco de tudo: a picada da mostarda de boa qualidade, as ervas frescas, a pimenta suave... E ainda traz pote de fritas douradas e sequinhas. É o meu começo de sempre (às vezes, o fim também). Como o bistrô está com cardápio festivo (por conta dos dez anos da matriz paulista), uma reunião dos maiores sucessos da casa, andei mudando meu repertório. Provei a sopa de cebola com chapelão de parmesão (R$ 25), que me deu um tremendo suadouro (culpa do inverno carioca), o confit de pato com musseline de batata-doce (R$ 78), as quenelles de linguado com espuminha de limão verde (R$ 45)... Sempre gostosos. E ainda teve o pão da casa, a terrine de campagne (R$ 25), e a rabanada de brioche (R$ 16), que curtimos na varanda, em plena Ipanema, molhinho que, sinto muito, só é servido aqui.