Criticando Lord Bar
Normalmente, quando um bom boteco perde o dono que lhe emprestava a alma, ele costuma perder a graça também. Mas eis uma verdade que, por sorte, nem sempre se confirma. No excelente Lord Bar, um pé-sujíssimo escondido no pátio de um prédio do Centro, foi assim. Há quatro anos, o antigo dono deixou o negócio, mas não lhe descartou o espírito. Assumiu em seu lugar seu Antônio Alves, um português forte e bem-humorado que, do alto de seus 70 e muitos, consegue manter a qualidade do chope e dos petiscos de balcão - ali servidos com um refinamento quase incompatível com a simplicidade do lugar. Hoje o Lord segue servindo um chope beneficiado por extensa serpentina imersa em gelo, que seu Antônio herdou do ex-dono. Sempre em caldeireta previamente gelada sobre pires de porcelana, é um primor. Para comer, o pernil tenro, beneficiado por um banho de cebola na chapa, é espetáculo. E as linguiças, sempre oferecidas ao primeiro chope, não devem ser recusadas. Apesar de espartano, o balcão estilo bunda-de-fora é um convite aos transeuntes, nem que seja para um dedo de prosa com seu comandante, o próprio Antônio, e o imediato Joãozinho, que navegam chapa, chopeira e boa conversa com precisão lusa. E se você, caro leitor, for convidado a provar daquele vinho verde alentejano tirado do fundo da geladeira, não hesite. Beba.