Criticando Cine Botequim

Era "Gilda" que exibiam no telão quando adentrei pela primeira vez aquela casa cheia de cartazes e cadeiras de cinema. Na obscura Rua Conselheiro Saraiva, a metros do colégio a que dediquei minha infância e onde, naqueles idos tempos, nada mais havia que uma dúzia de cortiços, acaba de abrir um bar dos mais fascinantes. Afinal, onde mais se pode ver "Gilda" - ou "2001", o outro filme da noite em que lá estive - enquanto se petisca uma porção de "Touro indomável" e beberica-se uma "Laranja mecânica"? Só lá mesmo, no novo Cine Botequim. No caso, caro leitor, "Touro indomável" é uma apetitosa porção de picanha fatiada. Já "Laranja mecânica" é um drinque à base da fruta, desses que menina gosta. Ambos são atrações da grade fixa de comes e bebes do lugar, onde carne de sol é "Vidas secas", bolinho de bacalhau é "O velho e o mar", e à fileira de caipirinhas batizou-se "Tropa de elite". A graça no cardápio - que também oferece coisa mais singela, como sanduíche de carne assada e uma excelente coxinha de frango com catupiry - é só parte da inspiração inteiramente cinematográfica que se espalha por todos os cantos da casa. Das luminárias feitas com rolos vazios de filme às impagáveis placas de porta de banheiro. Que literalmente levam ao toalete o tradicional Bonequinho, símbolo das críticas de cinema deste vetusto matutino. Tudo a maior diversão.