Criticando DoiZ

É incrível como a gente se acostuma a viver numa cidade esquizofrênica. No meu caso, nascido e criado, nem é costume: é Síndrome de Estocolmo. Em uma mísera semana, fui do horror indescritível que é dar entrada num documento no Detran à magnífica exposição sobre Miles Davis, no CCBB. Fui da humilhação do ônibus que não para no ponto a mais uma promessa de renovação da Praça Tiradentes. E fui ao DoiZ. Pois é, o DoiZ é o lado gêmea boa do Rio. Comandado pela turma do Meza Bar, a casa é um primor. Ocupa o lugar do simpático Trapézio, mas traz uma proposta completamente diferente. (Isso é bem mais honesto do que fazem os donos de certos bares que compram o ponto, dão uma maquiada e reabrem como coisa nova.) Mas chega dos meus rancores e vamos ao que interessa. Como era de se esperar do chef Fabio Battistella e de seu sócio, Fernando Blower, o menu é básico, mas extremamente inventivo. O fish and chips, puro povão britânico, vem com maionese caseira de aceto balsâmico (R$ 26). O tostex mistura Parma e queijo da Serra da Canastra (R$ 27). O sunomono é de picanha de carne de sol com azeite defumado (!) e farofa de pé de moleque (R$ 22). Que tal? Os drinques são clássicos: dry martíni, mojito, uíque sour etc, todos a R$ 19. Ah, tem Cuba libre também, a R$ 17. O visual, com néons azulados e luminárias cor de laranja misturados a pedras aparentes e um espelho gigantesco no mezanino, é mais um acerto da arquiteta Ana Slade. É festivo na medida certa, moderno sem pretensões, criativo com referências inteligentes. Uma noite no DoiZ é o antídoto necessário a Detrans e busões.