Criticando Botequim Imperial
Há alguns anos, fiquei na casa de uma amiga americana em Manhattan, numa região repleta de peep shows e cinemas suspeitos. Dois anos depois, voltei e, plim!, o bairro havia perdido o escracho. Ficou "limpinho" e "familiar". Minha amiga sentia falta da "autenticidade" perdida. Já eu fiquei fascinado com a capacidade de as cidades se reinventarem, para o bem e para o mal. Pensei nisso outro dia, quando estive no Botequim Imperial, no Baixo Botafogo. O que era um pé-sujo virou, há três meses, um bar com cadeiras no estilo dos diners americanos, luz suave e móveis de madeira na calçada. Nas paredes, tijolos aparentes, espelho veneziano e reproduções de gravuras da época do Império. No piso, azulejo hidráulico. Mas vamos ao que interessa. O chope, ótimo, custa R$ 3,90. A caipivodca de Absolut (!!!) sai por R$ 11,90, enquanto o drinque feito com matéria-prima nacional custa R$ 9,90. Adorei. Para comer, sandubas, que vão de R$ 12,90 a R$ 17,90 e vêm acompanhados de fritas e salada. Provei o Ipanema, um dos mais caros: linguiça, filé e mozarela. Básico e delicioso. A amiga americana temeria pela perda de autenticidade da área. Estaria enganada. O Baixo Botafogo é democrático como o Rio deveria ser e só tem a ganhar com a mistura de pés-sujos e limpos.