Criticando Bar da Adelina
A tarde de outono caía rápido quando cheguei ao bar de aparência franciscana e paredes de madeira pintadas de amarelo e vermelho. No salão quase vazio, um grupo de belas senhoras conversava animadamente. Pedi licença. Fui recebido com carinho por uma delas, que não tardei a perceber tratar-se da dona. Assim foi, algumas semanas atrás, meu primeiro e tardio contato com o Bar da Adelina, um dos últimos pés-sujos genuínos da Zona Sul, referência para a turma do samba, da cerveja sem frescura e da comida honesta. O Bar da Dona Adelina quase não tem decoração. Além das flores de plástico, as paredes ostentam, pendurados, um violão e um cavaquinho. Doações de amigos e disponíveis para quem quiser tocar. Todas as tardes, depois do almoço concorrido de fartos PFs (o empadão de frango das sextas é realmente especial), o bar não serve nada além de bebida, boa conversa e um sambinha eventual. Muito mais que negócio lucrativo, ali é um refúgio para vizinhos e amigos, e uma razão de viver para essa luso-brasileira de conversa e humor afiados, que há nove anos herdou um bar velho, sem móveis, carregado de dívidas e cheio de baratas. Hoje, mesmo sem qualquer recurso, sua casa é cultuada pelos sambistas da Zona Sul. É verdade que os famosos sambas dos últimos sábados do mês andam discretos, por causa das queixas de barulho. Mas a música sempre ecoa por lá nas tardes de fim de semana. E com a cerveja a R$ 3 - talvez a mais barata da Zona Sul - o som é sempre cristalino. E as paredes, ainda mais coloridas.