Criticando Adega da Velha

Veja você, caro leitor, o que é a idade chegando. Hoje completo cem mal traçadas colunas neste espaço. E tinha certeza absoluta de que, em uma delas, já registrara a notável Adega da Velha , em Botafogo. Mas, revendo os alfarrábios, descobri que estava enganado. Preciso, então, corrigir a falha, já que trata-se de um lugar que foi - e continua sendo, na opinião deste colunista - o melhor pé-sujo de comida nordestina da Zona Sul. Há 15 anos, seu Chico, o dono, transformou a antiga adega portuguesa numa casa cearense, com certeza. Manteve o nome, mas tirou os salames e garrafões de vinho do teto. Trocou-os por cabaças de barro, garrafas de cachaça e folhas de louro, que servem para espantar as moscas e o mau-olhado. Nas paredes, pôsteres do amado Botafogo, e reproduções de inúmeras reportagens de jornal que exaltam as qualidades do botequim. Mas é no cardápio que reside o maior orgulho da adega: são impressionantes 120 pratos diferentes. Todos elaborados na mesma chapa atrás da caixa registradora, e anunciados pelo badalar de sinos de latão. As estrelas do menu são bem óbvias, à base de carne de sol, baião de dois, feijã-de-corda e manteiga de garrafa. Mas quem procura com cuidado também acha algumas pérolas, que misturam a sabedoria nordestina com o gosto carioca. Como os sanduíches de filé com queijo coalho e de carne-seca com queijo. Delícias de fazer frente ao Cervantes.